quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Já?... Ainda?...


33 semanas. É de ficar de boca aberta.
Dou por mim a contemplar a minha barriga vários minutos seguidos em frente ao espelho. E já me belisquei para confirmar se tudo isto é mesmo verdade, se sou merecedora deste milagre. Combino quase todos os dias com a Isabel, numa promessa sussurrada, que vamos ser muito felizes.

Falta um mês e meio. Já? Ainda?...


sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Avó Rosel

As mãos que hoje sentiste, filha, estão carregadas de vida, de dor, de anos, de histórias. São umas mãos velhinhas, com veias salientes, com socalcos. Os dedos são irregulares, de diferentes tamanhos e feitios, tortos como a vida tantas vezes foi. A pele macia como o veludo, a contrastar com a dureza de tantos anos de trabalho.
São as mãos ternas e meigas da tua bisavó Rosel. As mãos que farão o melhor arroz doce que alguma vez provarás, os melhores pastéis de massa tenra, o magusto a saber a natal. As mãos que te embalarão com a ternura de quem já te ama tanto. És a esperança, a esperança de anos melhores, de uma alegria devolvida depois de tantos dias cinzentos. Isabel, a bisavó aguarda a tua chegada com o coração cheio. E tu verás o quão grande é o coração dela. 
A avó Rosel fez hoje 78 anos. Oferecemos-lhe aquilo que ela mais gosta: um livro. A rainha branca, para se juntar à vasta coleção de livros históricos e ficcionais de reis e rainhas. Mas ela deu-nos um presente ainda mais doce a seguir ao jantar: arroz doce com canela. Gostaste, eu sei. Mexeste-te tanto!
Mas o melhor da noite, que nada supera, foi o momento em que estivemos as três tão próximas. A minha mão, a mão da avó e tu, filha, tão perto, cada vez mais perto, a dares-nos tanto sem saberes.



quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Cadeira de Baloiço

Isabel, vai ser nesta cadeira, depois de almofadada, que te vou baloiçar, no meu colo, a contar-te histórias, a ler-te livros, a fazer-te viajar e a aprenderes que há poucas coisas melhores do que ler. Até aprenderes, por ti, a folhear os livros e a descobrires o mundo que se abre a cada página.
Quando era pré-adolescente cheguei a ler, numas férias grandes, 44 livros. Fiz uma lista. Lembro-me do nervosinho no meu corpo quando o fim de cada um se estava a aproximar, de pedir o próximo livro emprestado, de ir à sala de leitura Bernardo Santareno, no então Jardim da República, buscar mais, e de pedir à minha mãe que me comprasse uns quantos. Maria Teresa Maia Gonzalez, com todos os da colecção Profissão Adolescente, Alice Vieira, com Rosa, Minha Irmã Rosa e Lote 12 - 2º Frente, entre tantos outros, Sophia de Mello Breyner, enfim, dezenas de autores e livros que me marcaram e que me fizeram descobrir o prazer de ler.
Tenho um projecto para os teus primeiros anos: fazer uma biblioteca e marcar cada mês da tua vida com um livro.



terça-feira, 14 de janeiro de 2014

De pernas para o ar

A Isabel está de pernas para o ar.
Faz beicinho e gosta de pôr os pés (devem ser pequeninos, a avaliar pelos 41 da mãe...) debaixo das minhas costelas. Até agora consigo convencê-la a encolher-se, mas até quando? Já sinto os joelhos na parte direita da barriga, já sei onde está o tronco, o rabinho e até agora não estica muito os braços ou, pelo menos, fá-lo de forma a que eu não sinta. Ontem ficámos a saber que vai ter cabelo e não, não tem a ver com a azia. Vimos a penugem na ecografia.

O terceiro trimestre já se faz sentir, mas devagarinho. Já me sinto mais pesada, apesar de ter - só? - mais 8 quilos, e voltei a ter sono, muito sono. Acordo cansada, durante o dia fico bem e com energia, mas ali por volta das 19h os meus olhos começam a pesar. Hoje dei uma cabeçada em frente ao computador.
De resto, nem muitas dores de costas ou de ossos, as articulações estão bem, (ainda) não tenho azia nem nada dessas coisas chatas. Estou a gostar muito das aulas de preparação para o parto e gosto ainda mais quando vou acompanhada pelo pai.
Falamos muito na Isabel, suspiramos apaixonados. "Que fase boa esta!", não me canso de repetir. Continuo a ter aqueles momentos em que a realidade me arrebata. "Isto é mesmo verdade!" Neste preciso momento tenho a Isabel a confirmar tudinho, com o samba no pé.

Estou feliz. A Isabel já está de pernas para o ar, a minha vida também está a dar uma volta de 180 graus, mas eu não queria de outra forma.



quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

3/4 de Isabel

Como é que, de repente, já vamos nas 30 semanas, mas, ao mesmo tempo, parece que ainda falta tanto tempo para conhecer a Isabel?…
Há dias em que me apetece apertá-la, morder-lhe um pé, cheirá-la e sentir o quentinho do corpo dela junto ao meu. Há outros em que senti-la tão perto de mim, a mexer-se quando bem lhe apetece, cheia de vontade própria, faz de mim a pessoa mais feliz do mundo. Mesmo quando ela me deixa acordada até às 7h da manhã. Mesmo quando já não tenho posição na cama, mesmo quando trabalhar 8 horas me parece uma tarefa hercúlea. Mesmo quando já custa calçar as botas e uma tarefa tão simples quanto arranjar os pés se torna impossível. Mesmo quando subir um lance de escadas representa meia hora de ginásio. Mesmo quando uma ou outra estria começa a aparecer para que nunca me esqueça que neste corpo já viveram duas pessoas ao mesmo tempo.
"Aproveita para dormir agora", dizem-me. Pois, eu queria, mas não consigo. Tenho uma bateria a tocar dentro de mim. Mas eu gosto de música.

Janeiro é mês de preparar a mala da maternidade, lavar e passar as roupinhas, adiantar o quarto, comprar os produtos de higiene, ir às aulas de preparação para o parto, terminar de costurar a roupinha da Isabel que comecei em dezembro, comprar o tecido das cortinas e das almofadas para a cadeira de balouço, ir a casa dos amigos e família recolher o que nos vão emprestar. Em fevereiro espero ter quase tudo tratado e desfrutar do tempo que falta antes da Isabel nascer.
Trabalhar, namorar, ir ao cinema, ler e aproveitar bem o silêncio.

A Isabel está a três quartos. No fundo, já só lhe falta ficar gordinha e ganhar pulmão de cantora de ópera.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Vida a três



Em 4 anos e meio sempre fomos felizes. De bem com a vida, sem grandes discussões, com feitios que se complementam, com formas de estar na vida semelhantes, sonhadores, optimistas, trabalhadores. Os dois a gostar de passear, de cinema, de música, de campo, de estar com a família, de estar os dois sozinhos. Sempre nos habituámos a fazer cedências, a não ter de fazer tudo juntos, a não fazer birras para o outro nos acompanhar num jantar. É quase sempre fácil chegar a um consenso e tentamos não fazer fretes. Às vezes vou sozinha para Santarém, às vezes vai ele para Évora, gostamos de estar com os nossos grupos de amigos sem que o outro sinta obrigatoriedade de estar também. Temos uma relação saudável e sentimos saudades um do outro. É tão bom!...

Mas ambos sabemos que a partir do nascimento da Isabel a nossa vida vai mudar. Quer dizer, ainda não sabemos bem o que isso significa, mas já temos uma noção. Há aquelas pessoas que juram a pés juntos que não vão deixar de fazer nada do que faziam. Não acredito nisso. Claro que não se pode ter, sempre, o melhor dos dois mundos, há que fazer opções.

Mas uma coisa eu SEI. Não vou ser daquelas mães que não largam o filho nem por nada deste mundo, não vou, não vou! Recuso-me a só voltar ao cinema quando a criança tiver 8 anos. Recuso-me a não fazer um jantar a dois só porque não consigo deixar a criança em casa dos avós, dos tios, dos amigos próximos. Conheço casais que se desculpam com os filhos para não fazer rigorosamente nada. Acredito que nos primeiros tempos seja muito difícil e que todas as energias tenham de estar ali centradas, mas passado algum tempo tem de se aprender a confiar. Confiar que vai correr tudo bem naquelas 3 horas em que não estamos ali ao lado do nosso bebé. Porque é preciso respirar, namorar, quebrar a rotina. Não nos podemos esquecer que éramos dois, ainda antes de sermos três.

Quando estamos os três, em conchinha, na cama e nos pomos a adivinhar o futuro, combinamos, baixinho, que vamos ser felizes.

Ano novo...


Vida Nova. No nosso caso vai ser mesmo levado à letra. E falta tão pouco...
A barriga continua a crescer a olhos vistos e sinto a Isabel a todas as horas do dia, o que me faz esquecer a constante falta de ar. Por mais que respire fundo, há por aqui um diafragma bem apertado! As noites já não são o que eram, fico com dores ora num ombro, ora no outro e estes ossos já conheceram melhores dias.

Mas, durante o dia, energia não me falta! E alegria para dar e vender! Incrível a boa-disposição que um ser tão pequenino nos dá. Falo com ela com uma voz doce, suave, canto-lhe e espero as respostas, que vêm sempre. Claro que fantasio muito -ou tudo?-, mas viver neste mundo da maternidade é mesmo isso: um mundo de fantasia do qual não quero sair nunca! É mesmo das coisas mais fantásticas que me podia ter acontecido.

Perguntam-me se estou ansiosa. Não é bem ansiedade, ou pelo menos não com o lado pejorativo. São borboletas na barriga, é um nervosinho bom, diferente de tudo! Talvez seja infantil comparar estes dias com aqueles que antecediam o meu regresso às aulas, mas é mais ou menos esse o meu nível de entusiasmo. A excitação dos preparativos, imaginar o mundo novo que nos espera, fazer planos e calendários e sonhar, sonhar, sonhar.

Há momentos em que penso se sou merecedora de tudo isto.
É tudo tão perfeito que até dá medo!
Já só faltam 11 semanas para conhecer o maior amor da minha vida.