segunda-feira, 31 de março de 2014

Quem dá colo a quem?

Escrevo contigo no colo. Não é fácil, mas quando fores mãe vais perceber que nada é impossível. Uma mão chega. Agarro-te com a mão esquerda, a tua cabeça pende sobre o meu ombro e sinto a tua respiração junto ao pescoço. De vez em quando levantas a cabeça para logo a deixares cair. Fazes uns sons que já gravei, não vá a memória, tão cheia de ti, pregar-me uma partida. Sorris só com o lado esquerdo da cara, como se estivesses feliz. Sorris porque sim, mas eu gosto de lhe dar um significado. Beijo-te a bochecha, uma e outra vez, quentinha e a cheirar a leite.
Estamos à espera de colo. O teu pai está a trabalhar e faz-nos falta. Enquanto ele não chega vamos namorando, só as duas, mas ambas sabemos que colo a três é ainda melhor. Menos quando o teu pai decide cantar para ti. Isabel, não podes sorrir nesses momentos, porque ele acha que estás a gostar! Tens de aprender a fazer cara feia e desencorajá-lo!

[Post interrompido pelo teu choro. Será fome? Já? Vamos a isso]

Filha, tenho um pedido a fazer-te. Quero que me peças colo hoje, amanhã e sempre. Pela vida fora. Porque quem recebe colo sou eu.

terça-feira, 25 de março de 2014

O teu primeiro choro

Lá fora estava um lindo dia de sol. Era sábado, dia 15 de março. Estava grávida de 39 semanas e três dias. Acordei cedo, fui lavar as tuas roupinhas, quando senti algo diferente. Seria ruptura da bolsa? Pelo sim pelo não, fomos ao hospital. Falso alarme. Mandaram-me caminhar e voltar lá uma hora depois. Afinal era mesmo, ia ficar internada. Vinhas a caminho. Eram 13h30. 
Até às 02h48 do dia seguinte ficámos à tua espera. Contrações bem fortes, dores enormes, fome e sede. O teu pai massajava-me as costas, eu fazia exercícios na bola de pilates para acelerar a dilatação. Na televisão o estoril-marítimo e algumas gargalhadas à conta disso. Epidural e todo o conforto do mundo. A espera, mas nunca o medo. Inspira, expira, inspira, expira. As dores a tornarem-se insuportáveis outra vez. Hora do reforço da epidural. Sede, tanta sede e tanta vontade de te conhecer, Isabel. Nunca mais vinhas. Estávamos à tua espera.
A nossa médica chegou. A obstetra com que sempre sonhei para este momento. Calma, doce, de sorriso fácil. A deixar-me tranquila, sempre. Nunca duvidei dela, nunca. Eu dizia piadas e estava bem disposta. O ambiente era calmo, repleto de risos. As enfermeiras eram de uma alegria, entrega e dedicação que nunca esquecerei. Eu estava pronta.
No caminho para a sala de partos, respirei fundo e pensei na sorte que tinha. Pedi que corresse tudo bem. Foram 10 minutos, não mais. Tivemos a ajuda da ventosa, mas nada disso me assustou. Entreguei-me nas mãos da médica que 8 meses antes me tinha anunciado, numa consulta de rotina, "está grávida!". A primeira pessoa que soube que eu ia ser mãe e me viu chorar de alegria, no dia 29 de julho. Tinhas então 7 semanas.
Vinhas aí, agora é que era. O teu pai ao meu lado e o milagre a acontecer. Eram 02h48. Senti um corpo quente e irrequieto em cima do meu corpo. Eras tu. Massajaram-te, choraste. O teu primeiro choro, que nunca esquecerei. Ri-me, ri-me muito, descontroladamente. Eu que sempre fui chorona, naquele momento tive um ataque de riso. Inacreditável aquele momento e uma adrenalina como nunca tinha sentido. Eras tu, Isabel. Puseram-te junto a mim, no peito, estavas a chorar e acalmaste com o som da minha voz. Arrepiante. Emocionante. Inesquecível. 3,680kg, tudo perfeito. Prontas para ir para o quarto, fizemos o trajecto juntas, foste a mamar e a ficámos a olhar uma para a outra, a conhecermo-nos. Já no quarto, o pai pegou-te ao colo. Chorei, chorei muito. Que momento lindo! O teu pai, o meu amor, contigo nos braços. Os meus grandes amores.


domingo, 23 de março de 2014

A três



Dia 16 de março. O dia que marca para sempre a minha vida. O dia em que te ouvi chorar pela primeira vez. Em que senti o teu corpo quente junto ao meu. Em que te ofereci mama e ficámos ali, juntas, unidas para sempre. Tu e eu. As duas, a olhar uma para a outra. O som da minha voz a acalmar-te. Nada pode ser mais perfeito. Nada. É algo que me ultrapassa, que me leva para outra dimensão. Chamar-lhe magia é pouco. É amor. Um amor que faz engolir em seco quando não temos a certeza de que estamos a fazer bem. Um amor que acelera o bater do coração e que nos faz estar alerta dia após dia. As minhas noites nunca mais vão ser iguais. Porque tu existes, Isabel, e basta um esgar diferente que o meu coração dispara. Quero sorver tudo. Quero decorar cada linha do teu rosto, cada expressão, cada som. És a minha filha. Filha. Filha. Tenho de repetir para acreditar. Filha.


Dia 16. O dia em que o sonho se tornou real. Isabel. Chamo-te pelo nome há uns meses, mas agora vejo-te, ouço-te e beijo-te. Namoro os teus dedinhos, a forma das tuas unhas, já sei de cor o formato das tuas orelhas, as covinhas da tua cara, as dobras das tuas pernas. E até já sonhei contigo, nas parcas horas em que consigo dormir.


Dia 16. O dia em que chorei assim que te vi pela primeira vez no colo do teu pai. Isabel, tens muita sorte. Temos muita sorte. O teu pai ama-te tanto! Chama-te filhota, diz-te que és a melhor coisa da vida dele. Foi ele quem te deu o primeiro banho, mudou a primeira fralda e todas as outras! Tanto mimo, tanto amor... e só agora começou!...



Dia 16. O dia em que fui mãe. Já o era, mas agora sinto-o nas entranhas. O papel mais difícil da minha vida começou. As dores da amamentação, as dores da recuperação, as dores de não conseguir descortinar logo as tuas dores. A recompensa no teu ar sereno, a dormir aninhada e a sentir o bater do meu coração. A recompensa no som que fazes enquanto te alimento. É música para os meus ouvidos!

Dia 16. O dia em que trouxeste a felicidade contigo. Pai, mãe, avós, bisavó, tios: todos a terem mais uma razão para sorrir e para viver. Uma família que se torna ainda mais família, unida pelo amor a um ser tão pequenino. Um ser que nos ensina tanta coisa!

Dia 16. Uma vida a três. Melhor do que a dois.

terça-feira, 11 de março de 2014

A espera

Podia escrever sobre estar em casa, sozinha, a aproveitar os últimos dias de silêncio. A ler, a pensar, a projectar, a ver séries e filmes. Mas não. 
Escrevo sobre a espera. Escrevo sobre as dores nos ossos e nas articulações. Escrevo sobre o facto de já andar a contar os dias, impaciente. Já me tinham avisado que as últimas semanas íam ser assim mesmo. Confirma-se. E até é divertido! Não, não é, estou a gozar.
Comprei uma máquina de costura para me ir entretendo, mas a falta de jeito é tanta que ainda só fiz e desfiz. 
Estou a ler um livro que, de tão bem escrito, numas férias teria acabado em 3 dias. Ando a ler aos bochechos.
Estou a ver uma série fantástica, o True Detective, que noutra altura me deixaria acordada até ao fim. Adormeço ao fim de 15 minutos.

Isabelinha, ouve a tua mãe, está sol, nem está frio e tens um montão de gente que te quer contemplar, beijar, ouvir. Sim, podes berrar, não faz mal. Sim, não nos vais deixar dormir. Sim, vais fazer muitos cocós. Sim, não vai ser fácil! Mas podes vir, vem descansada, estou pronta!

sexta-feira, 7 de março de 2014

O meu peixinho

Isabel, há uns dias descobri que afinal és um peixinho. Gostas de andar a nadar na minha barriga e de ficar cá bem em cima. Não há maneira de quereres descer. 
Acho que já percebi porquê, filha. Gostas de estar perto do meu coração. O mais perto possível! 
Como se não estivesses já dentro dele, para sempre.

quarta-feira, 5 de março de 2014

Now is the Start

Um casal, com os seus 25 anos, acaba de sair da primeira ecografia.
Cá fora, ela apressa-se a apontar num bloquinho tudo o que viu e ouviu. Os pais vão ao seu encontro e uma rapariga, talvez a melhor amiga, abraça-a. Vêem juntos os registos do futuro bebé, com um entusiasmo e um brilho nos olhos de que me lembro tão bem... O avô pergunta se vai ser rapaz e solta uma gargalhada. A avó sorri, deleitada. "Cinco centímetros", diz a grávida, com uns óculos redondos, leggins de padrão e ainda sem barriguinha. "Aqui está o coração". Saem juntos, com uma alegria contagiante. Aqui está o coração.

[A banda sonora deste momento: Now is the start]