quarta-feira, 11 de junho de 2014

"Não cresças muito", pediu-te


Isabel, hoje o teu pai sobrevoou o Atlântico. Quando se despediu, pediu-te que não crescesses muito. Logo os meus olhos se encheram de lágrimas. Foi o primeiro dia sem ele. A primeira noite. Adormeceste no berço, ao lado da nossa cama, a segurar os meus dedos. Vamos ter saudades, tu e eu. O teu pai é tudo o que eu sonhei para marido e para pai dos meus filhos. Para teu pai. Apesar do sono, acorda com um sorriso quando te vê. Tu retribuis sempre. Sempre não, hoje não. Hoje choraste muito. Parecia que estavas a adivinhar que ele se ía embora. Ele volta, Isabel. Em menos de nada. Pelo menos, é no que me refugio para não chorar.
Quando o teu pai me falou na hipótese de ir trabalhar no Mundial, acompanhar a selecção, conhecer o Brasil, nem pisquei os olhos. Disse-lhe "vai". Sabia que ia ser óptimo para ele. Uma experiência única, profissional e pessoal. Estava grávida, fiz as contas e disse que ias ter três meses, que não ia ser fácil, mas que devíamos arriscar. Que ia correr tudo bem. Vai correr tudo bem. Vamos morrer de saudades, mas vai passar depressa. Depressa, mas devagar para que não cresças muito, tal como ele te pediu.




1 comentário:

  1. Não nos conhecemos mas achei este blogue muito relevante para o que estou a viver.
    Surgiu-me a possibilidade de ir um mês para Nova Iorque trabalhar. Quando isso acontecer, o meu filho terá 8 meses. Embora queira muito aproveitar essa oportunidade, acho que vai ser muito difícil afastar-me dele durante um mês. No fundo, gostaria de saber a perspectiva do outro lado. Como é que o David se está a aguentar, estando longe?
    Obrigado,
    Tiago

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