sexta-feira, 25 de julho de 2014

Um momento só nosso



Nunca pensei que pudesse ser assim. O melhor e o pior.
Assim que te puseram na minha maca, a menos de uma hora de teres nascido, soubeste o que fazer. Fomos juntas até ao nosso quarto, unidas. Foste a mamar, timidamente. Os dias que se seguiram foram de preocupação na hora da mama. Adormecias. Molha pé, despe, aperta pé, mexe na orelha, mexe no queixo. O sono falava mais alto. Perdeste algum peso, é normal. Ainda no hospital, a médica que te deu alta sugeriu suplemento. Tive dúvidas, mas quis confiar em mim. No meu instinto. Não dei. Estavas bem, não parecias ter fome. 
Já em casa, a subida do leite. Horrível. Dores e mais dores. Parecia que ia rebentar e tu não davas vazão. Vidrinhos no peito, dores lancinantes quando mamavas e antes e depois. Pedia ao teu pai para me apertar um pé com toda a força possível. Só queria deixar de sentir aquelas dores. Podiam ser outras. Aquelas não. Experimentei todas as mezinhas, o saco quente, o banho, a massagem. Depois o saco frio, creme, o próprio leite, a bomba. Fiz de tudo. As dores eram enormes. Pegavas bem, mas doía muito. Ninguém me tinha avisado que ia ser assim. Não sabia. Doeu mais do que o parto. Chorava a dar de mamar. Aquele momento supostamente tão lindo, tão próximo, era um inferno. Mas ia passar. Tinha de passar. Eu só perguntava "isto vai passar, não vai?" "Vai, isso passa", respondiam. Um mês. Um mês inteiro com dores na mama esquerda. Não estava nos meus planos. Chorava, tentava incentivar-te. Dizia com a voz mais calma que conseguia "boa, filha!", "mamas tão bem", "isso". Por dentro dor, dor. Não queria que te apercebesses. Naqueles momentos lembro-me de pensar nas mães que desistiam. Percebi. Não as condenei. Nunca mais. Percebi tão bem. Bolas, as dores eram tão fortes! 
Passou. 
Um mês depois, amamentar era bom. Era um momento só nosso, mágico. Sabia que te estava a dar o melhor alimento possível. As dores tinham ficado no passado. Valeu a pena cada segundo daqueles. A tua satisfação a mamar dava sentido a todo aquele sofrimento. 

Depois vieram as cólicas a mamar. Contorcias-te, choravas, tinhas fome mas causava-te dor. Ouvia o som do leite a chegar ao estômago. Foi difícil. Tinha de me levantar, tentar distrair-te e lá ias mamando. Malditas cólicas. Passaram as cólicas. Voltaste a mamar bem. Mas foi sol de pouca dura.
Biberão. Esse grande aliado quando fui trabalhar, no dia em que fizeste três meses. Deixava leitinho e bebias no biberão. Pois, mas acontece que te começaste a habituar ao facilitismo do biberão. A mama dá muito mais trabalho. Prestes a fazer 4 meses, preferias o biberão. Pedi conselhos, liguei para o SOS Amamentação, pediatra, tudo. As reservas de leite congelado estavam a acabar. Sabia que se não mamasses, dificilmente a bomba iria ajudar tão bem na produção de leite. Comprei suplemento. Pelo sim, pelo não. Comprei suplemento para mim. Não queria deixar de ter leite. Não depois de tanto esforço. Não depois de ser o nosso momento. Uns dias a tirar pouco, a tristeza a apoderar-se. Mamavas bem durante a noite e de manhã. Às vezes à tarde também. Fiz de tudo. Não desisti. Comecei a produzir mais leite para mamares e para guardar. Dava-te leite do meu pelo biberão quando te começavas a queixar da mama. 
Dei-te algumas vezes suplemento, porque tinhas fome e descongelar ia demorar muito tempo. Chorar com fome, não! Queria ouvir os teus sons de prazer a mamar, qualquer que fosse o leite. 
Até que fui a uma consulta na Amamentos pedir ajuda. Melhorou. Estás a mamar muito melhor. Estou fartinha da bomba, mas faço-o por ti. Por ti, tudo.
E pode ser que continues a querer o meu colinho e a minha maminha mais uns meses. Eu gostava. Pode ser, Isabel?

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