terça-feira, 27 de maio de 2014

Olá, pessoas!

Olá! 
Este blog tem andado inactivo, mas as razões são as melhores: tenho desfrutado de todos os momentos com a Isabel. Ela está cada vez mais querida, tem enormes "conversas comigo" e sorri cada vez que me vê. 
Esta noite acordou imensas vezes e acabou por vir dormir comigo. Connosco. 
Já vos disse que ela é a melhor coisa que me aconteceu? A melhor parte de mim?... Já, mas repito, ela enche-me o coração.

E estes olhos? Enormes, brilhantes?... Impossível resistir à minha bebé!

domingo, 18 de maio de 2014

Família

Vir a Santarém é sinónimo de colo, de família, de amor. Todos querem dar miminhos à Isabel, fazê-la rir, falar com ela. Nesses dias ela é deles. Da avó Béu, do avô Fernando, da bisavó Rosel, do bisavô Manuel, da tia-avó Rosel. Gosto que ela saltite de colo em colo, que se habitue a todas as pessoas, que aprenda a gostar de todos. A Isabel trouxe muito amor a esta família. Num ano, muito mudou. O tio Jorge partiu inesperadamente, deixando-nos destroçados. Nasceu a Isabel e os corações voltaram a bater. Ela é a luz desta família. A nossa Isabelinha.

No colo da tia-avó Rosel

Com cabelo comprido ;) e uns olhos da cor do casaco
Pézinhos
A dormir no colo do avô
No colo do bisavô Manuel


sexta-feira, 16 de maio de 2014

Dois meses de Isabel


Dois meses. 61 dias. 
Vieste fazer de mim uma pessoa melhor. Melhor porque tenho o coração sempre cheio de amor. Melhor porque 99% dos meus pensamentos são positivos. Melhor porque tenho aprendido a manter a calma, a respirar fundo, a controlar-me, nos momentos mais difíceis, para que nada sintas. Melhor porque vieste fazer de mim uma pessoa menos egoísta. Obrigaste-me a reaprender as coisas importantes da vida. A olhar para o futuro com o mesmo encanto e entusiasmo que tinha quando era criança. 
Amo-te, filha! Quando me olhas, vidrada, com esses teus olhos cinzentos, brilhantes, quando me segues com olhar, quando sorris para mim, devolves-me as horas de sono a menos. Quando fazes beicinho a pedir colo, nada mais importa. Adoro dar-te colo. Ter-te quentinha apertada contra o peito é voltar a ter-te na minha barriga. É melhor ainda.
Hoje, quando choraste de dor nas vacinas, chorei contigo. Acalmaste assim que te peguei ao colo e te disse palavras calmas. Saber que te consigo confortar é das melhores coisas do mundo. Já confias em mim, já sabes muito bem quem eu sou. Sou a tua mãe, Isabel. E só te peço que sejas feliz! 


quarta-feira, 14 de maio de 2014

Sono de beleza


As primas

Já imagino a Isabel a correr atrás da Laura. A olhar para ela como se olha para um ídolo, a imitá-la. A jogar às escondidas com a Alice. A partilharem gomas. A contarem segredos umas às outras. A prepararem os teatros e as canções da noite de Natal. Como sempre fui a única menina na família (tenho sete primos rapazes e um irmão), nunca alinhei muito nas brincadeiras de wrestling e cowboyadas. Nas festas ficava quase sempre à mesa com os adultos. Deve ser tão bom ter primas!
A Laura é a minha sobrinha mais velha. Vai fazer quatro anos em agosto. É esperta e desenvolta. E linda! Perco-me naqueles olhos e naqueles caracóis.
A Alice tem menos um dia que a Isabel. Nasceu a 17 de março, no mesmo hospital. A minha sogra andou de quarto em quarto, para diversão das enfermeiras. Afinal de contas, duas netas a nascerem praticamente no mesmo dia é dose!
As primas. Imagino-as as melhores amigas. A zangarem-se e a virem fazer queixinhas, para logo depois darem um abraço. A darem gargalhadas cúmplices. Mal posso esperar para vê-las de mãos dadas! 

A correr...

"Aproveita bem." "Aproveita todos os momentos." "Passa tudo muito rápido." Tudo frases que tenho ouvido nestes dois meses. Tudo verdade.
Em menos de nada, a Isabel já "conversa" connosco (rrrrrr, vram, aaahhh, uhhh) e já sorri muito, muito (quem vê aquela boquinha pequenina nem imagina o sorriso enorme que pode sair dali). No outro dia, depois de dez minutos sozinha na espreguiçadeira, apanhei-a a sorrir para os bonecos.
Isto passa mesmo a correr. Acho que num piscar de olhos vai estar a correr pela casa e a fazer disparates. Por isso, tenho aproveitado todos os momentos. Muito colo, muitos beijos, muita conversa, muitos sorrisos. Tenho pena de que o dia não tenha mais horas para poder namorá-la muito e fazer tudo aquilo que tem de ser feito numa casa. Há mais roupa para lavar e passar, a desorganização é uma constante, fazer refeições nem sempre é possível. Há dias de caos. Há dias de choro, cólicas e birrinhas. Há dias em que quando ouço a chave na porta, sinto imediatamente alívio. Vem aí a ajuda do David. Há dias em que sair de casa é simplesmente perfeito. Com ou sem ela. Vamos jantar fora os três. Já conseguimos ir ao cinema só os dois, e apesar das saudades, fez-nos bem.
Ninguém disse que seria fácil, mas isto está tudo tão bem feito que o corpo se vai habituando. Com a maternidade e o caos que se instala vamos aprendendo a ser mais calmas. O bebé não pode sentir a nossa ansiedade. Respira-se mais fundo, tenta-se acalmar o batimento cardíaco. E consegue-se. Consegue-se.
Tenho saído muito de casa com a Isabel. Faz-me bem. Já fomos ao jardim, almoçar, ver montras, comer um gelado, trabalhar. Ela coladinha a mim. Tira carrinho, tira ovo, põe no carro, não esquecer a mala, está com fome, tira avental de amamentação, muda fralda, põe protector solar, será melhor pôr chapéu?, põe carro, põe ovo, estará com calor?, ajeita o espelho. Fico cansada, mas gosto de me sentir activa. É o meu ginásio.
E por falar em ginásio, não tivesse caído nas escadas do prédio e magoado um pé, acho que já estava a correr nas máquinas e a fazer aulas. Ando cheia de vontade de perder os dois quilos que me faltam e combater esta flacidez. Mas... e tempo? Só se conseguir acordar às 07h30 para aproveitar enquanto o David ainda está em casa... mas não me parece que a força de vontade seja assim tanta!
Queria ter mais tempo. Para tudo. Para escrever, para registar tudo. Mas prefiro viver cada momento. Porque passa a correr.






domingo, 4 de maio de 2014

As mães

As mães dão colo. Fazem-lhes promessas baixinho ao ouvido. Embalam horas a fio. Correm para o berço quando eles choram. Passam o dedo suavemente pela testa até à pontinha do nariz. Uma, duas, dez vezes. As que forem precisas. Beijam os dedinhos dos pés. As bochechas quentinhas. Ficam a contemplá-los enquanto dormem. Cantam músicas de embalar e outras inventadas. Tomam banho a correr, comem a correr, dormem levemente. Registam cada momento, entusiasmam-se com cada conquista, apreciam momentos que passam despercebidos aos outros. Um pequeno som, um sorriso, um olhar. O acordar cheio de expressões, o esticar dos braços e das pernas, a cara cheia de marcas da cama, o cabelo despenteado e molhado. As mãozinhas que prendem uma na outra na hora de dormir. A mãozinha que pousa no peito na hora da mama. As covinhas nos dedos. As mães reparam nos pormenores.
As mães sofrem quando eles sofrem. Quando têm cólicas, quando acordam com pesadelos. As mães preocupam-se, ficam com o coração nas mãos. As mães têm dúvidas, querem o melhor para os filhos. Lêem, questionam, mas por mais que os outros opinem, o juízo final é delas. O instinto fala mais alto.
As mães sonham, querem adivinhar o futuro, saber como vai ser a primeira gargalhada, o som da voz. Do que vão gostar. Como vão ser. As mães querem ter a certeza de que fizeram o que estava certo. Querem que eles sejam muito melhores do que elas. Que se sintam felizes, amados.
As mães têm a melhor e a mais bonita profissão do mundo. A mais difícil, a mais assustadora, a mais compensadora. 

Aprendi isto tudo num mês e meio, mas ainda falta aprender muito mais. Até porque isto de se ser mãe é para toda a vida.

Feliz Dia da Mãe


"As mães perseguem os lobos nos seus sonhos, durante toda a vida. E, acordadas, cantam para espantar o medo." Sílvia Alves

quinta-feira, 1 de maio de 2014

Carta para a minha filha recém-nascida

[texto de José Eduardo Agualusa] 

 

Quando nasceste, e eu cortei o cordão que te unia à tua mãe, murmurando baixinho, eu te inauguro, minha filha, bem-vinda à vida, eu sabia que havia homens, lá fora, a assassinar outros homens, ou a prepararem-se para assassinar outros homens; havia homens ocupados a adestrar adolescentes na arte da guerra (é como lhe chamam); havia homens concentrados na difícil tarefa de torturar prisioneiros, e outros tantos engendrando máquinas destinadas a mutilar, a ferir e a matar inocentes.
 
"Acho uma irresponsabilidade ter filhos neste tempo", disse-me um amigo, numa tarde de sol resplandecente, e eu concordei, distraído, ou talvez porque fizesse muito calor, e me seja sempre difícil encontrar argumentos quando a luz cai em excesso. Certas coisas, como se sabe, vêem-se melhor na escuridão. Agora, no silêncio da noite, não me custa reconhecer que sim, que vivemos tempos cruéis – mas não o foram sempre? Existem hoje, aliás, mais territórios a salvo da crueldade, e, sobretudo, da crueldade enquanto sistema, do que, e nem preciso recuar séculos, no ano em que a minha mãe nasceu. A história da humanidade é uma história da crueldade; mas é também uma história contra a crueldade. 
 
Houve um tempo em que havia no mundo mais torturadores do que poetas. Hoje, tenho a certeza, são mais os poetas do que os torturadores, embora – também sei disso – haja quem acumule funções. Gente com múltiplas aptidões. Conheci alguns maus poetas que enquanto escreviam os seus maus poemas se revelaram bons torturadores.
 
Temos cometido crimes que nenhum verso redime. Mas – caramba! – também acrescentámos beleza ao mundo. Penso em tudo aquilo que te quero mostrar, em todos os lugares que quero revisitar e descobrir contigo. Coisas simples, como o fulgor das tempestades, lá, no planalto, em meio ao verde exultante do capim. A curva de um ribeiro onde fui feliz na minha infância. Os ovos moles de Aveiro. Algumas canções de Lhasa. Abdullah Ibrahim tocando (e cantando) "Ishmael". Uma buganvília, velha amiga minha, muito bela, que na primavera é a primeira a encher de cor o Jardim Tropical, em Lisboa. O pôr-do-sol no Arpoador. O Museu Picasso, em Barcelona. O sorriso do teu irmão. O mar, um leve lago azul-anil, de Angra dos Reis. Saltar de asa-delta da Pedra Bonita. 
 
Ah!, e haveremos juntos de subir o Quanza, até Massangano, e de descer o Nilo, desde Ondurman (será possível?) até ao Cairo, e o imenso Amazonas, desde Iquitos a Belém do Pará. Havemos de lançar papagaios ao vento e, mais tarde, talvez me possas ensinar a dançar os ritmos que então estiverem na moda. Só uma mulher que me ame muito me conseguirá ensinar a dançar o que quer que seja. 
  
Ao contrário do que dizia o meu amigo, naquela tarde de sol, mas sem esperança, ter filhos hoje é uma demonstração de responsabilidade. No instante em que te dei as boas vindas, às 17 horas e 17 minutos de um domingo angolano, e segurei a tesoura e cortei o cordão que te unia à mãe, foi também a mim que inaugurei. Um filho é sempre um recomeço. Um filho é a maneira que temos de reiniciar o mundo. Sofrerás, eu sei, com a crueldade e a injustiça dos homens. Em certas manhãs acordarás sem ânimo. Talvez então te questiones sobre os motivos porque te trouxemos aqui. Trouxemos-te (é o que sinto) para que nos ajudes a sermos melhores. Trouxemos-te porque te queremos melhor do que nós. 
 
Ver-te dormir - e como tu dormes minha filha, com que talento! - repousa-me (e regera-me) mais do que o meu próprio sono. Anseio por ouvir a tua primeira gargalhada. Sei que isso me fará ainda melhor. Não conheço som mais iluminado do que a gargalhada de um bebé. 
 
Bem vinda, pois, minha filha. Choveu há pouco. O céu está limpo. O mundo está agora a começar.